“Anonymous” ou “Anônimos” é um movimento, um grupo indefinido, que ganhou popularidade pela sua defesa ao portal Wikileaks, quando empresas de cartões de crédito cessaram o processamento de doações à organização em 2010. Desde então, o nome “Anonymous” tem se envolvido em ações diversas e polêmicas. A Sony, por exemplo, tem dito que o “Anonymous” foi responsável pela invasão da Playstation Network (PSN), mas o “próprio” Anonymous negou envolvimento – e as duas versões são verdadeiras.
Qualquer pessoa que diga ser um “anonymous” será um anonymous; não havendo regras de “admissão”, também não há como afirmar qual o conhecimento médio ou perfil de um anonymous.As duas versões são verdadeiras porque o Anonymous não é um grupo, não é um movimento e não tem causas. O Anonymous não tem porta-vozes, não tem membros ou representantes. Todas as pessoas podem ser Anonymous. Qualquer um pode fazer algo – bom ou ruim – e atribuir ao Anonymous, a qualquer momento. Não há regras, escritas ou não, que digam quem faz parte e o que é típico de algo “anonymous”.
Assim que a invasão a Playstation Network (PSN) foi anunciada, um site ligado ao Anonymous afirmou que o grupo não estava envolvido. Segundo um depoimento dado pela Sony a congressistas dos EUA, porém, os invasores em seus sistemas deixaram uma mensagem se identificando como Anonymous. Aí surgiram “membros veteranos” do Anonymous – seja lá o que isso quer dizer – afirmando na imprensa que “pode ter sido o Anonymous que fez, se os invasores assim se identificaram”.
Esses “membros veteranos” não falaram nada mais do que o óbvio. O que faltou afirmar é que uma palavra de um “membro veterano” não tem valor nenhum a mais do que um “membro novato”, afinal o Anonymous não tem lista de membros, e muito menos uma lista datada para identificar quem são os “veteranos”.
De forma semelhante, há quem peça “evidências” do envolvimento do “Anonymous” no ataque. A Sony deveria dar essas evidências. Mas o Anonymous, como organização clássica, não existe. Não é possível acusar algo que não existe de ter realizado um ataque. Para todos os efeitos, os hackers envolvidos podem ter participado de protestos anteriores nos quais o rótulo esteve envolvido. Mas isso, também, não significa nada.
Não há nenhuma autoridade em um rótulo que foi criado para não ter significado. O niilismo da palavra Anonymous, porém, ainda não foi bem compreendido.
Teorizar a respeito da “vingança” de hackers porque a Sony estava processando George Hotz, que fez um software de jailbreak para o Playstation 3 (PS3), também é distração a respeito do problema real. O que existe é uma tendência de ataques a grandes empresas para roubar informações que serão usadas em ataques pela internet. Independentemente da motivação do ataque da Sony, ele não é uma anomalia que precisaria de uma explicação específica, mesmo que ela exista. Criminosos não precisam de motivo para roubar dados de uma rede vulnerável.
Caos no surgimento do Anonymous
Anonymous surgiu de uma brincadeira do fórum de internet 4chan onde todas as pessoas que postam são obrigadas a postar anonimamente – daí “Anonymous”, em inglês. Já que todas as pessoas ali eram “Anonymous”, certa sensação de “coletividade” surgiu em seus participantes, que entenderam todos ser um único indivíduo: o tal Anonymous que “posta” todo o conteúdo do site.
Quando algumas pessoas passaram a realizar todo tipo de atividade na internet – como bullying, roubo de contas ou ataques de negação de serviço – que derrubam sites na internet – era sempre o “anonymous” que aparecia no 4chan para relatar o ocorrido, como se tudo fosse do mesmo grupo ou da mesma pessoa.
Algumas pessoas organizaram salas de bate-papo no qual membros do 4chan que participavam dessa brincadeira podiam se comunicar para melhor organizar ações em grupo. As mais notáveis foram os protestos contra a Igreja da Cientologia em 2008, iniciados depois de uma polêmica entrevista do ator Tom Cruise.
Apesar dos protestos físicos e pela internet, nada mudou na Igreja da Cientologia. Porém, outros protestos seguiram, desde o ano passado, com a história do Wikileaks e empresas relacionadas como a HBGary Federal.
No caso da Sony, manifestações foram iniciadas para tirar a rede PSN do ar como represália às ações judiciais contra o hacker Geohot, que havia feito um software de “jailbreak” do PS3 para rodar jogos caseiros. A ação não foi popular entre os gamers, nem surtiu efeito, e foi eventualmente cancelada. Depois ocorreu a invasão.
O Anonymous faz parte do “submundo” da internet, mas é o único grupo a não ter qualquer tipo de regra, causa ou lista de membros fixa. É um rótulo que qualquer pessoa pode adotar para qualquer fim. Não é possível manchar a imagem do Anonymous porque, sem membros e sem ideologia e sem causas, não há imagem para ser manchada. O histórico do “grupo” nada a tem a ver com seu futuro – conforme o rótulo ganha popularidade, aumentam as chances de pessoas sem relação com as primeiras “brincadeiras” usarem o rótulo para qualquer fim.
Um policial investigando a invasão na PSN não verá nenhuma utilidade na informação de que “foi feito pelo Anonymous”. São milhares de pessoas que nem se conhecem, muitas delas nunca conversaram, e há dezenas de salas de bate-papos em que “subgrupos” se reúnem. Essa informação de nada vale.
E é preciso que se pare de discutir se o “Anonymous” está envolvido. Um rótulo que não é um grupo e não pode policiar seus membros – na verdade, que nem sabe quem eles são – de nada vale. O Anonymous não pode prestar explicações. “Anonymous” não explica nada. Fica no ar a pergunta de quais foram os indivíduos responsáveis – e isso ninguém sabe.
Ter uma falsa sensação de “caso solucionado” com a explicação “o anonymous que fez” só vai servir para distrair quem ainda não entendeu que tudo nesse mundo é culpa do Anonymous, que todas as pessoas são Anonymous, mas também que ninguém é Anonymous e que nada é Anonymous – ao mesmo tempo, dependendo só de quem for consultado.
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