16 maio 2011

Anonymous foi e não foi responsável por ataque à PSN

Rótulo não tem regras, causas ou admissão de membros, o que torna discussões sobre responsabilidades e envolvimento irrelevantes (Foto: Reprodução)


“Anonymous” ou “Anônimos” é um movimento, um grupo indefinido, que ganhou popularidade pela sua defesa ao portal Wikileaks, quando empresas de cartões de crédito cessaram o processamento de doações à organização em 2010. Desde então, o nome “Anonymous” tem se envolvido em ações diversas e polêmicas. A Sony, por exemplo, tem dito que o “Anonymous” foi responsável pela invasão da Playstation Network (PSN), mas o “próprio” Anonymous negou envolvimento – e as duas versões são verdadeiras.
Qualquer pessoa que diga ser um “anonymous” será um anonymous; não havendo regras de “admissão”, também não há como afirmar qual o conhecimento médio ou perfil de um anonymous.As duas versões são verdadeiras porque o Anonymous não é um grupo, não é um movimento e não tem causas. O Anonymous não tem porta-vozes, não tem membros ou representantes. Todas as pessoas podem ser Anonymous. Qualquer um pode fazer algo – bom ou ruim – e atribuir ao Anonymous, a qualquer momento. Não há regras, escritas ou não, que digam quem faz parte e o que é típico de algo “anonymous”.
Assim que a invasão a Playstation Network (PSN) foi anunciada, um site ligado ao Anonymous afirmou que o grupo não estava envolvido. Segundo um depoimento dado pela Sony a congressistas dos EUA, porém, os invasores em seus sistemas deixaram uma mensagem se identificando como Anonymous. Aí surgiram “membros veteranos” do Anonymous – seja lá o que isso quer dizer – afirmando na imprensa que “pode ter sido o Anonymous que fez, se os invasores assim se identificaram”.
Esses “membros veteranos” não falaram nada mais do que o óbvio. O que faltou afirmar é que uma palavra de um “membro veterano” não tem valor nenhum a mais do que um “membro novato”, afinal o Anonymous não tem lista de membros, e muito menos uma lista datada para identificar quem são os “veteranos”.
De forma semelhante, há quem peça “evidências” do envolvimento do “Anonymous” no ataque. A Sony deveria dar essas evidências. Mas o Anonymous, como organização clássica, não existe. Não é possível acusar algo que não existe de ter realizado um ataque. Para todos os efeitos, os hackers envolvidos podem ter participado de protestos anteriores nos quais o rótulo esteve envolvido. Mas isso, também, não significa nada.
Não há nenhuma autoridade em um rótulo que foi criado para não ter significado. O niilismo da palavra Anonymous, porém, ainda não foi bem compreendido.
Teorizar a respeito da “vingança” de hackers porque a Sony estava processando George Hotz, que fez um software de jailbreak para o Playstation 3 (PS3), também é distração a respeito do problema real. O que existe é uma tendência de ataques a grandes empresas para roubar informações que serão usadas em ataques pela internet. Independentemente da motivação do ataque da Sony, ele não é uma anomalia que precisaria de uma explicação específica, mesmo que ela exista. Criminosos não precisam de motivo para roubar dados de uma rede vulnerável.
Manifestante em protesto contra a Cientologia na cidade de Hollywood, o primeiro grande protesto usando o rótulo (Foto: Jason Scragz/Flickr/CC-BY)

Caos no surgimento do Anonymous

Anonymous surgiu de uma brincadeira do fórum de internet 4chan onde todas as pessoas que postam são obrigadas a postar anonimamente – daí “Anonymous”, em inglês. Já que todas as pessoas ali eram “Anonymous”, certa sensação de “coletividade” surgiu em seus participantes, que entenderam todos ser um único indivíduo: o tal Anonymous que “posta” todo o conteúdo do site.
Quando algumas pessoas passaram a realizar todo tipo de atividade na internet – como bullying, roubo de contas ou ataques de negação de serviço – que derrubam sites na internet – era sempre o “anonymous” que aparecia no 4chan para relatar o ocorrido, como se tudo fosse do mesmo grupo ou da mesma pessoa.
Algumas pessoas organizaram salas de bate-papo no qual membros do 4chan que participavam dessa brincadeira podiam se comunicar para melhor organizar ações em grupo. As mais notáveis foram os protestos contra a Igreja da Cientologia em 2008, iniciados depois de uma polêmica entrevista do ator Tom Cruise.
A maioria das imagens reais de participantes do Anonymous é dos protestos contra a Cientologia em 2008 (Foto: Jason Scragz/Flickr/CC-BY)

Apesar dos protestos físicos e pela internet, nada mudou na Igreja da Cientologia. Porém, outros protestos seguiram, desde o ano passado, com a história do Wikileaks e empresas relacionadas como a HBGary Federal.
No caso da Sony, manifestações foram iniciadas para tirar a rede PSN do ar como represália às ações judiciais contra o hacker Geohot, que havia feito um software de “jailbreak” do PS3 para rodar jogos caseiros. A ação não foi popular entre os gamers, nem surtiu efeito, e foi eventualmente cancelada. Depois ocorreu a invasão.
O Anonymous faz parte do “submundo” da internet, mas é o único grupo a não ter qualquer tipo de regra, causa ou lista de membros fixa. É um rótulo que qualquer pessoa pode adotar para qualquer fim. Não é possível manchar a imagem do Anonymous porque, sem membros e sem ideologia e sem causas, não há imagem para ser manchada. O histórico do “grupo” nada a tem a ver com seu futuro – conforme o rótulo ganha popularidade, aumentam as chances de pessoas sem relação com as primeiras “brincadeiras” usarem o rótulo para qualquer fim.
Um policial investigando a invasão na PSN não verá nenhuma utilidade na informação de que “foi feito pelo Anonymous”. São milhares de pessoas que nem se conhecem, muitas delas nunca conversaram, e há dezenas de salas de bate-papos em que “subgrupos” se reúnem. Essa informação de nada vale.
E é preciso que se pare de discutir se o “Anonymous” está envolvido. Um rótulo que não é um grupo e não pode policiar seus membros – na verdade, que nem sabe quem eles são – de nada vale. O Anonymous não pode prestar explicações. “Anonymous” não explica nada. Fica no ar a pergunta de quais foram os indivíduos responsáveis – e isso ninguém sabe.
Ter uma falsa sensação de “caso solucionado” com a explicação “o anonymous que fez” só vai servir para distrair quem ainda não entendeu que tudo nesse mundo é culpa do Anonymous, que todas as pessoas são Anonymous, mas também que ninguém é Anonymous e que nada é Anonymous – ao mesmo tempo, dependendo só de quem for consultado.

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